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Um texto sobre teatro

Eu queria ir mais ao teatro. Essa é uma daquelas conclusões a que se chega sem saber muito bem de que forma, você apenas acorda com uma vontade insana de ir mais ao teatro. E é isso, nada de grandes visões com esse texto, não tenho nenhum segredo para contar, nada aqui vai mudar a sua vida, só queria dizer que queria ir mais ao teatro, achei que era importante. Já acordou com a sensação de ter dormido por tempo demais? Como se tivesse ido para a cama ontem e acordou dez anos depois? Você de repente percebe que as coisas não estão onde você deixou na noite passada, as paredes estão mofadas, tem teias de aranha no teto, plantas mortas na janela e você fica se perguntando que diabos aconteceu, por quanto tempo você permaneceu adormecido? É uma sensação estranha, essa. Mas o texto não é sobre isso, é sobre minha vontade de ir ao teatro. Assisti meses atrás uma peça sobre os amores de Machado de Assis, um monólogo, para ser mais preciso. Monólogo, é assim que se chama uma peça de u
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Apenas sorria e acene ou "A arte de ficar em silêncio"

Quem passa por mim no dia a dia, sem me conhecer, deve pensar que sou um cara estranho. Sou aquela pessoa que se limita aos bom dias e aos acenos de cabeça, adepto de pensamentos flutuantes e olhar distante, não faço por mal e na maioria das vezes, eu não queria ser assim. Quando criança, segundo minha família e conhecidos, eu era um verdadeiro terror. Quando as pessoas se apercebiam da minha chegada, corriam para tirar de vista qualquer coisa que pudesse ser quebrada ou arremessada, eram algumas horas de pânico. Eu era aquele tipo de criança que foge dos pais no super mercado, que aborda estranhos na rua, que tranca a mãe fora de casa e tenta botar fogo nos colchões. Sim, eu tentei colocar fogo nos colchões. E então, assim sem aviso, me tornei o cara estranho que não não fala muito. Na verdade, eu falo, falo pelos cotovelos, mas só de vez em quando e com pessoas com quem me sinto confortável para tal. O fato é, que a medida que crescemos, as pessoas param de ouvir o

Sobre sorvete de milho e mudanças

Ontem eu comi sorvete de milho, eu só fiz isso duas vezes durante a minha vida, e ontem foi a segunda. Lembro que da primeira vez que provei o dito cujo, achei uma das coisas mais repugnantes da face da terra, quase um sacrilégio para a comunidade de adoradores de sorvete. Mas ontem ele estava lá de novo, bem na minha frente, e por algum motivo desconhecido do universo, eu comi. E sabe o mais engraçado? Não achei tão ruim assim dessa vez, e veja bem, não estou dizendo que é bom, apenas não é tão tuim, talvez na próxima vez eu até goste. Mas o ponto aqui não é o sorvete de milho, o ponto é que esse evento me fez lembrar que a gente muda o tempo inteiro. Minha essência continua a mesma, mas eu mudei. Sabe o que tá me incomodando? Gente que não deixa a gente mudar. Seria legal se pudêssemos ser programados com um conjunto de crenças e certezas assim que nascêssemos e ao atingirmos nossos setenta ou oitenta e tantos anos, após a nossa morte, constatassem que elas ainda estavam lá,

Precisamos falar de amor

Ninguém me disse que o amor adoece se não for bem cuidado. Amor não "acaba" de uma hora para outra, ele simplesmente adoece, vai perdendo as forças, o brilho dos olhos, a vontade de viver, e morre. Processo longo, doloroso, difícil de ser curado. Esse é aquele tipo de coisa que não se aprende na escola. "Bom dia pessoal, hoje vamos aprender como cuidar do amor", não seria de todo mal. Até encararia as aulas de exatas com mais tranquilidade depois disso. Amor de verdade não tem fim. Quem disse? Amor de verdade tem fim, sim. Quem foi que deu conotação pejorativa para o nosso adeus? Amor de verdade diz adeus, e o diz com antecedência. Nós é que não percebemos. É proibido dizer um "eu te amo" sucedido de um "adeus"? Não ensinaram essa regra na escola. Antes de P ou B, usasse M. Antes de "adeus" não se usa "eu te amo". Amores de verdade também partem. Alguns até voltam. O amor é superestimado. Só acho. Tem toda ess

A Velha Tjikko

Procuraram os homens pela mais antiga das árvores da terra, deparando-se então com a "Velha Tjikko". Que decepção para os megalomaníacos de plantão, não tinha ela mais do que quatro ou cinco metros. Baixote, carcomida pelo tempo e destorcida pelo vento. Não venderia muita revista, pensaram eles, e grandes matérias não se fariam a seu respeito, as pequenezas não atraem grandeza. Um velho senhor viajou horas e mais horas para chegar ao local da descoberta, homens gostam destes encontros com passados distantes, passam a  ideia de que a eternidade não é um devaneio tão insano assim. Ao chegar lá, sentou-se a sua frente, como se tivesse encontrado um grande amigo de épocas passadas, ou a si mesmo. Nada havia de especial nela, para quem não conhecia sua história. Todos são iguais por fora, pensou, a distinção é mais profunda.  Admirou-a então, por instantes infinitos de tempo parado. Quão comum era ela aos olhos! Podia ter sido qualquer coisa.  Podia. Podia

A Torre, o Louco e o Eremita.

Tenho ansiado por ser poesia, me fundir ao intangível do imaginário, ser incógnita, inquietude. O universo pôs diante de mim a torre quebrada de Babel, e já não há convicções ou caminho certo posto a mesa. Queria eu ser o Louco, afinal, não é a vida um infinito de finitudes? Quando se chega ao fim, não estamos de volta ao início? Não é a estrada feita de vazios? Mas vejo-me Eremita, a vagar e divagar ao encontro de um espelho que reflita mais que pele e mentiras. Procuro uma ponta solta de mim mesmo, uma ponta solta de alma, a que possa me agarrar e desfiar, até que nada reste. Tendo sido feito da poeira de estrelas, como dizem uns, não devia eu encontrar no céu algum acalento para toda essa dor? Procurei em seu silêncio as resposta para perguntas desconhecidas, me fiz escravo de sua grandeza distante, roubei-me do desejo de ser mundo. Percebo agora que das cartas dadas, minhas eram as mãos. Que fiz voz o que era desejo desarraigado, que de tronos invisíveis povoei

O maior Idiota do mundo

Quando o Coração chegou ao consultório, Dr. Facundo ainda não havia chegado. Ansioso, como sempre, sentou-se em um pequeno sofá na sala de espera, de frente para a secretária, dona Eunice. A espera chegou ao fim alguns minutos depois, quando o doutor entrou na sala abruptamente. Era um homem alto, com seus cinquenta e poucos anos, e o que lhe sobrava em altura, faltava em cabelo.  - Desculpem o atraso, o trânsito estava uma loucura, vamos entrando. A sala de atendimento era simples e aconchegante, com apenas uma poltrona, um divã de couro marrom estofado e uma mesinha de centro. O Coração foi logo se acomodando, enquanto Dr. Facundo tirava um gravador e um bloco de notas de dentro da pasta. - E então, Coração, certo? Me fale um pouco sobre você, porquê resolveu me procurar? - Bom, estou passando por uma crise, doutor, me sentindo o maior idiota do mundo. Foi a Razão que me indicou o senhor. - Entendo, algum motivo aparente para estar sentindo-se assim?